Seguidores e
Seguidoras,
Ontem, tendo em vista
a ausência absoluta de sinal de internet na suíte do Hotel Amar Mahal, em
Orchha, foi impossível postar no blog. Por isso, aqui vai o que vimos em
Gwalior e em Orchha.
Na viagem entre Agra
e Gwalior, de repente nos deparamos com uma paisagem quase lunar, com uma
grande extensão de terra parecendo erodida pela água, formando uma série de
pequenas pirâmides de terra arenosa e espécie de cânions em formação. Pelo guia
Jaideep foi dito que havia dois lugares na Índia que havia aquele tipo de
formação e que elas formavam um labirinto tão complicado que quem entrasse lá,
dificilmente acharia o caminho de volta e, por isso, se tornou uma terra de
esconderijo dos ladrões da região porque a polícia tinha medo de lá entrar.
Relatou ainda que, nas grandes festas feitas naquela região, os convidados
chegam todos armados para se protegerem de um eventual assalto dos ladrões que
lá residem.
Outro fato que tem
nos impressionado nas estradas da Índia, e não foi diferente nesse percurso,
são postos de cobrança de uma taxa de acesso de carros de serviço e caminhões,
de um estado da Índia para outro. Poderia ser até normal se não fosse o fato de
que os postos de cobrança não serem como um pedágio. É num prédio fora da estrada.
Assim sendo, os motoristas têm que parar, desembarcar e enfrentar uma fila para
o pagamento. Ocorre que no local do posto é estrada normal, às vezes próximas
de um povoado, sem nenhum, nenhum mesmo, lugar para estacionar. O resultado é
previsível. Todos têm que estacionar no acostamento, sendo que os caminhões, em
fila quilométrica, ficam com metade sobre a pista de rolamento. Como a pista
fica metade obstruída de cada lado, os engarrafamentos são enormes e alguns
motoristas têm que andar distâncias enormes desde seu caminhão até o posto de
pagamento. Nunca vimos nada tão irracional para fazer a cobrança de uma taxa de
circulação de veículos. Coisas da Índia.
Não tínhamos muitas
expectativas em relação a Gwalior. Ela, porém, foi uma grande surpresa positiva
e nos impressionou sobremaneira. Primeiro pelo seu enorme forte, o mais grande
que já vimos nesta viagem, no topo de uma montanha.
Antes de explorá-lo,
todavia, no centro de Gwalior fomos visitar o maravilhoso museu do Jai Vilas
Palace. Em estilo italiano, fica ao sul do forte. Foi construído para o marajá
de Gwalior, por seu arquiteto, Coronel Sir Michael Filose, no fim do século 19.
Ainda é a residência da família dos antigos governantes Scindia, mas parte do
palácio foi transformado em museu. O salão mais opulento é o Durbar Hall.
Presos ao teto estão dois dos maiores candelabros do mundo, cada um com 13
metros de altura e três toneladas de peso. Antes de serem pendurados, a
resistência do telhado foi testada, colocando-se sobre ele diversos elefantes. Ali
está exposto o fantástico trem de prata, um brinquedo que transportava bebidas
ao redor da mesa de jantar do Marajá, uma majestosa sala, com três ambientes,
separados por colunas de mármore branco, cada uma com mesas longuíssimas. No
museu do palácio há uma sala totalmente dedicada ao Pai do atual marajá da
cidade, que jovem, e político brilhante, faleceu num acidente de avião. Muitas
fotos, salas e objetos retratam o estilo inglês, fruto da longa ocupação da
Índia por eles.
O sólido Gwalior Fort
se extende por mais de 3 km, no topo de um morro de arenito e basalto, com 100
m de altitude. Sua muralha, de 10 m de altura, toda fortificada, protege
templos e palácios requintados, dos quais o mais espetacular é o Man Mandir
Palace. Construído entre 1486 e 1516, pelo Raja Man Singh, da dinastia Tomar,
este Palácio de dois andares é considerado um dos melhores exemplos de
arquitetura secular Rajput, embelezado com belos entalhes e treliças de pedra.
Decoram a fachada de Man Mandir, azulejos brilhante, com pinturas azul, amarela
e verde, que retratam papagaios e pavões, fileiras de pato, elefantes,
bananeiras e crocodilos carregando botões de lótus. O Palácio é de uma beleza e
conformação ímpares. Seus calabouços labirínticos, foram desde alojamento para
os funcionários e damas do palácio, até masmorra dos prisioneiros dos Mongóis,
quando eles ocuparam e governaram a Índia até a vinda dos ingleses.
Na forte destacam-se
ainda templos hindus, dois deles do século 11, chamados Saas-Badu (mãe e nora)
um ao lado do outro, fruto da disputa de uma rainha e sua nora, para ver quem
faria o melhor e maior templo. Obviamente que a rainha ganhou. Eles são
cobertos com magníficas esculturas de moças e divindades dançando, as quais
foram parcialmente destruídas, especialmente suas faces, pelo sultão filho de
Shah Jahan. Entre os templos hindus, o mais
magnífico e antigo, do século 9°, é o Teli ka Mandir, templo de 25 metros de
altura (o maior do forte), ricamente entalhado. Construído, como dito, no
século9° e dedicado ao deus Vishnu tem uma torre incomum, redonda no topo.
Do topo do Forte se
tem uma perfeita vista da cidade ao seus pés. Lá ainda se encontra um templo da
religião sik, feita em homenagem a um guru dessa religião que esteve preso no
Palácio antes descrito e de lá conseguiu sair com vida.
Na descida da
montanha, outra grande surpresa que é muito comum na China. Enormes esculturas
de deuses jainistas, esculpidas na rocha, formando um conjunto riquíssimo e
maravilhoso. Um espetáculo imperdível.
No período noturno,
antes do jantar, subimos mais uma vez a montanha para assistir um espetáculo de
luz e som, contando a história do Man Mandir Palace, desde as suas origens,
suas guerras, batalhas e ocupantes até a atualidade. O jogo de luzes, na
escuridão plena do lugar, é um espetáculo marcante e que vale a pena ser visto.
Como se vê, Gwalior,
cerca de 230 km de Agra, merece ser visitada por quem vai a Agra e fica
limitado ao que lá existe, com essas joias seculares e históricas tão à mão.
No
dia seguinte saímos de Gwalior, bem cedo para irmos até Orchha, mais
profundamente no coração da Índia. Como dito no título desta postagem, foi um
verdadeiro rali. Para fazermos 120 km, demoramos 4 horas e meia. O País e
altamente corrupto, conforme seus habitantes nos confidenciam. 25 por cento do
valor das obras públicas vão para os funcionários encarregados da burocracia e
outros 25 por cento, vão para os políticos. Sobra, se tanto, 50 por cento para
a obra. Por isso, acontece o que vimos hoje. A estrada estava em processo de
duplicação. As obras de arte parcialmente feitas. Pequenos trechos de estrada
asfaltada. Os demais trechos haviam sido mexidos para preparar a base e a obra
parou há anos. Resultado. Um verdadeiro rali. Estrada com crateras profundas,
não se podendo transitar há mais de 20 km por hora. Poeira e buracos. Vimos o
que mais se aproxima do inferno (se existe) aqui na terra. Uma cidade extensa
ao longo da rodovia inacabada, com um movimento intenso, em filas, de veículos
passando por ali. A poeira era tanta, que se via poucos metros à frente. O que
já é pobreza extrema, com as pessoas trabalhando o dia inteiro no meio da
poeira plena, com comida de rua e verduras expostas, e as atividades cotidianas
em centenas de barracas expostas ao pó,
transformaram tudo numa cena dantesca. Só vendo para se ter uma noção do que é
o inferno.
Outra cena inusitada
foi uma procissão que tomava toda a rodovia, com pessoas vestidas
predominantemente amarelas e com uma espécie de pote na cabeça. Os carros e
caminhões tinham que parar e, se possível, passar pelo acostamento com todo
cuidado. Imaginávamos que no andor que as pessoas carregavam tinha uma imagem
de um dos milhares de santos que os indianos têm. Não era. Era um homem, de
carne e osso, vivíssimo, sendo carregado, como um santo, por seus seguidores,
estrada afora. Incrível.
Cerca de 4,30 h para
fazer 120 kilômetros. Chegamos em Orchha por volta das 13,30 h. Descansamos um
pouco do rali que fizemos, e saímos para conhecê-la.
Orchha fica em uma
ilha rochosa do rio Betwa. Fundada em 1531, serviu de capital para os reis
bundelas até 1738, quando foi trocada por Tikamgarh. Sem conservação, palácios,
pavilhões, muros e portas ligados à cidade por uma impressionante passarela de
14 arcos, agora formam tudo o que restou. Os três palácios principais estão
simetricamente concentrados. São eles: o Raj Mahal (1560), o Jahangiri Mahal
(1626) e o Rai Praveen Mahal (1670), cujo nome homenageia uma amante do rei.
Primeiro fomos
conhecer o Jahangiri Mahal. Excelente exemplo de arquitetura Rajput bundela,
este palácio foi construído pelo Rei Bundela Bir Singh Deo, e seu nome
homenageia o imperador mongol Jahangir, que passou uma noite aqui. Em muitas
camadas, o palácio possuiu 132 aposentos acima do pátio central e um número
quase igual de túmulos subterrâneos. Quadrado, de arenito, possui azulejos
embelezados com lápis-lazúli, chhatris gradiosos e telas de jali ornamentadas.
O Palácio encontra-se
um pouco abandonado, apesar de em seu interior ter um hotel do governo. Portas
centenárias caídas e com pregos à vista, rachaduras visíveis em paredes de 4
metros de espessura, de um lado a outro e de cima a baixo, estão a esperar
conservação, sob pena de desmoronamento, sem contar que estava tudo muito sujo
e as salas onde tem afrescos centenários,
estão expostos à luz e à poluição do ar e esperando restauração já que estão se
depauperando. Nenhuma iniciativa visível nesse sentido. Apesar de tudo tem
belezas passíveis de serem vistas e o visual do castelo, desde a cidade, é
poderoso. As vistas do rio Betwa desde os andares mais altos do castelo também
valem a visita.
Dali fomos visitar um
templo hindu ímpar, especialmente pelo seu tamanho. O Chaturbhuj, em uma
combinação única de estilos de forte e de templo, é dedicado a Vishnu e possuiu
enormes salões em arcos, que lembram as grandes catedrais europeias e uma
agulha alta. Para quem visitou, com nós, outros templos hindus, este é único,
pelo seu jeito de catedral católica e, por isso, por ser ímpar, merece visita.
Dali fomos para o
mais impressionante que Orschha tem, os cenotáfios, ou mausoléus dos reis
bundelas. Dispostos ao longo da Kanchana Ghat no rio Betwa, estão 14 bonitos
cenotáfios de governantes de Orschha. Eles lembram o passado feudal de Orschha
quando rainhas às vezes cometiam sati,
suicídio, quando pulavam dentro das
piras funerárias dos maridos. Um conjunto arquitetônico magnífico com
construções ricamente elaboradas e simetricamente localizadas, a maior parte
delas, num jardim fechado, onde se entra mediante pagamento de ingresso. Vale a
pena fazê-lo porque o conjunto tem um quê de pirâmides do Egito, guardadas as
proporções. São, todavia, artisticamente mais cheios de detalhes e de beleza
singular.
Por volta das 20
horas, fomos assistir uma cerimônia de preces no maior templo hindu da região e
um dos mais frequentados por peregrinos vindos de todo o país. Chegamos no
templo, após tirarmos os sapatos e tudo de couro que portávamos, e lá
encontramos os fiéis postados sobre um tapete, defronte a uma porta de prata,
esperando sua abertura para visão das imagens dos deuses e ter contato com o
sacerdote. Um policial armado de escopeta fica defronte à porta que, a um sinal
do sacerdote é aberta e começam cânticos e tocar forte de um sino. Depois, o
sacerdote toca as oferendas trazidas pelos fiéis, doces, pães, flores, bombons,
etc. fica com um pedaço para o santo e o resto devolve para que os fiéis façam
um doação daquilo para quem necessite. Uma experiência diferente e
detalhadamente explicada pelo nosso guia Jaideep, que é hindu.
A visita à cidade de
Orschha vale pelos mausoléus dos reis, mais todo o conjunto de sítios
históricos faz da visita à cidade um programa bem consistente.
Hoje estamos em
Khajuraro, a cidade dos templos. Tudo o que veremos aqui, será aqui postado.
Até. Beijos a todos. Narcísio e Dirlei.
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Terra erodida entre Gwalior e Orchha, refúgio de ladrões |
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Lugar para pagamento de taxas interestaduais, causadoras de engarrafamentos nas estradas |
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Os blogueiros, defronte Jai Vilas Palace, em Gwalior |
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Vitral do Jai Vilas Palace |
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Trem de cristal, para servir bebidas num trilho sobre a mesa, para os marajás no Jai Vilas |
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Mesa com o trilho para o trem de bebidas |
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Lustre de cristal vermelho, no Jai Vilas Palace |
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Dois dos maiores e mais pesados candelabros do mundo, no Jai Vilas |
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Visão do Jai Vilas Palace |
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Gwalior Fort |
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Man Mandir Palace, no Gwalior Fort |
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Interior do Man Mandir Palace |
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Visão externa do Man Mandir Palace, sobre o penhasco do Gwalior Fort |
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Visão da cidade de Gwalior, desde o Man Mandir Palace |
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Salão de audiências públicas, do Gwalior Fort |
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Templo construído pela sogra |
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Templo construído pela nora, no Fort Gwalior |
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Visão do Fort Gwalior |
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Templo hindu, um dos mais altos e mais antigos, no Gwalior Fort |
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Estátuas de deuses jainistas, esculpidas na pedra, na descida desde o Gwalior fort |
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Um dos muitos confusos cruzamentos da Índia |
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Burro no topo do monte de tijolos, ao fundo |
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Trator super carregado, obstruíndo o tráfego |
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Cena comum. Cada casa tem um estoque de cocô seco da vaca, para combustível |
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Procissão com santo vivo, na estrada |
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Portal do antigo castelo onde hoje se encontra um templo hindu, em Orchha |
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Jahangiri Mahal, Palácio em Orchha |
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Represa poluída, no centro de Orchha, para captação da água para a cidade |
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Visão do Jahangiri Mahal |
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Salão de audiências públicas do Jahangiri Mahal |
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Templo da origem da vida |
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Afrescos no interior do Jahangiri Mahal |
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Visão externa do palácio |
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Decoração com pedras preciosas,no interior do mahangiri Mahal |
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Principal portão de entrada do Mahangiri Mahal |
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Templo Chatubhuj. Orchha |
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Interior do templo, em forma de catedral |
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Principal rua da pequena Orchha |
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Visão do Rio Betwa que circunda orchha |
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Os magníficos cenotáfios, ou mausoléus dos marajás, em Orchha |
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Frente do templo onde assistimos um culto hindu, em Orchha |
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