quarta-feira, 7 de maio de 2014

XIAN, OS GUERREIROS DE TERRACOTA E O MAUSOLEU HANYANG

Seguidores e Seguidoras,

Se o Tibet foi um dos pontos altos da nossa viagem pela China, Xian e seus relevantes tesouros históricos certamente que nada fica devendo a nenhum outro.

A viagem de retorno do Tibet para a China normal e poluída foi feita em um avião menor, fato que tornou a viagem um pouco mais instável mas a beleza do Himalaia visto de cima restou intocada. Na chegada no moderno aeroporto de Xian, o guia com carro e motorista nos aguardava para  nos conduzir até o Hotel Sofitel, tido como o melhor da cidade e altamente recomendável já que no seu interior tem uma churrascaria tocada por um gaúcho, que nos recebeu muito bem e serviu uma ótima carna, naturalmente com o toque do tempero chinês.

Capital da moderna Shaanxi, Xian foi capital do País  por 4 mil anos, servindo 11 dinastias, entre as quais Zhou Ocidental, Qin, Wei Ocidental, Zhou Setentrional, Sui e Tang. Os chineses reconstituem sua linhagem até  antes do mítico Imperador Amarelo, que fez Xianyang sua capital (2200-1700 a.C.). Xian chegou no auge na dinastia Tang, quando sua posição na extremidade oriental da Rota da Seda a transformou numa metrópole agitada que atraia comerciantes estrangeiros e crenças novas, a exemplo do cristianismo nestoriano, do islamismo, do zoroastrismo, do maniqueísmo e do budismo. Depois entrou em declínio mas hoje voltou ao seu apogeu com a descoberta pelos turistas dos seus impactantes sítios históricos.

O centro histórico da cidade de Xian fica nos lites do seu impressionante muro. Ao contrário de muitos muros de cidades chinesas, até das poderosas defesas de Pequim (agora todas destruídas), o muro de Xian continua intacto e forma um retângulo de 14 km de comprimento em volta do centro da cidade. Nosso hotel se localizava nessa área.

Em 1370, no reinado de Hongwu, o primeiro imperador Ming, o  muro foi erguido sobre as fundações do palácio imperial Tang, com taipa, cal viva e extrato de arroz viscoso. Os bastiões de 12m de altura têm base com mais de 18 m de espessura. Pode-se subir no muro em diversos ponto, e foi o que fizemos na escada leste da Porta Sul, para caminhar  ao longo das defesas, onde se reúnem vendedores ambulante de souvenires e onde há bicicleta para alugar para dar uma volta ao muro. Desistimos de fazê-la, primeiro porque estava muito movimentando e com crianças soltas e, segundo, porque a poluição era tão densa que qualquer esforço exigiria mais absorção da fumaça do carvão mineral que reina sobre quase toda a China. Passeio muito interessante, com um bela vista da cidade e dos lindos jardins nas margens do muro.

O mais interessante, todavia, ainda estava por vir. Levados pelo guia depois de sairmos da cidade, chegamos naquela onde se localizado o Túmulo do Imperador Qin, ainda inexplorado mas que se pode ver da estrada, numa espécie de pirâmide que se destaca na planície. Cerca de 1,5 km depois, feitas todas as revistas para ingresso, entramos num grande parque ajardinado e arborizado até que chegamos no local de um dos sonhos de nossa vida. O museu do Exército de Terracota.

O Exército de Terracota foi descoberto em 1974 por agricultores que cavavam um poço. As fantásticas figuras de cerâmica de tamanho natural foram modeladas em argila, uma diferente da outra, inclusive em relação a suas feições. Foram modeladas para guardar o túmulo de Qin Shi Huangdi, soberano despótico que unificou a China há mais de 2200 anos. As escavações resultaram em três trincheiras, cada um formando um museu separado, tudo com mais de 7 mil soldados, arqueiros e cavalos. Na Trincheira 1 está a infantaria; na 2, ainda em escavação, a cavalaria e os soldados e, na 3, poco escavada, o centro do comando, com 70 oficiais de alta patente. Originalmente cada guerreiro era colorido e empunhava uma arma.  Os conquistadores posteriores à dinastia Qin saquearam o local, levaram todas as armas que eram reais, soterraram o logo e nele lançaram fogo. O trabalho de restauração, todavia, está novamente trazendo a luz  essa impressionante loucura do Imperador que reproduziu em terracota todo o seu exército e staff imaginando que iria encontrá-los na outra vida. Com isso, nos legou esta obra de arte sem precedentes.

Entrar na Trincheira 1 e dar de cara com mais de 6 mil guerreiros em formação de batalha, cada um com sua particular feição, foi um momento sublime, hipnotizante, indescritível. Difícil assimilar e imaginar como aquela cena impressionante foi imaginada e construída. De vez em quando, quatro cavalos em formação para carregar uma carruagem que fica só no imaginário já que, de madeira, foi queimada. Nas laterais, voltados para fora, soldados vigiavam os flancos. Os oficiais de comando, figuras imponentes, vestidas de acordo com seu posto,  com uma túnica  de duas camadas até os joelhos, se diferenciavam, tanto por suas  regalias como por serem mais altas do que as figuras de infantaria que parece inspecionar.

Nas demais trincheiras, ainda pouco escavadas, o pouco que já o foi dá uma mostra de que valerá a pena, no futuro, retornar aqui para ver a inteireza dessa obra magnífica, patrimônio da humanidade.
A visita ali foi coroada pela visita ao  museu das carruagens, onde duas carruagens que foram encontradas no túmulo do imperador, há 1,5 km daqui. O museu, por si só, no subterrâneo, já é uma obra magnífica. Ver, porém, as carruagens milenares reconstruídas e ali em exposição, como diz a propaganda, não tem preço.

Sem dúvida, este é uma dos poucos sítios históricos do mundo que não pode deixar de ser visitado, dado a sua importância, sua arte única, sua imponência e sua beleza inebriante. Imperdível 3x.
Retornados para o Hotel, após um requintado chá inglês, descansamos para nos prepararmos para o espetáculo de música e dança do período noturno. Consta que o Imperador Qin era um apreciador tão grande da música e da dança, que proibiu a prática das mulheres de amarrarem seus pés para mantê-los pequenos e sensuais aos olhos deles, para que elas pudessem praticar a dança.

O espetáculo da ópera local, isso revive. Os luxuosos e coloridos cenários, as danças e os shows de música foram sensacionais. A performance de três artistas, em particular, foram arrebatadores. Um com um instrumento de sopro diferente, uma mulher que assoviava e tocava ao mesmo tempo duas cornetas e uma performance de tambores. Pena que não pudemos gravar para mostrar a excelência desse espetáculo. Quem for a Xian não pode perdê-lo porque foi um show fantástico, como dito, arrebatador.

Jantamos no sofisticado restaurante do hotel para, depois de um dos dias mais completos e recompensadores da viagem descansar já que no dia seguinte teríamos mais, já no caminho para o aeroporto. O impressionante Mausoléu Hanyang, construído pelo Imperador  Jindi, o quarto da Dinastia Han. Impressiona, primeiro, pela magnitude do prédio subterrâneo onde se encontra o museu, resultado de investimentos de 69 milhões de dólares, especialmente depois do local ter sido declarado Patrimônio da Unesco em 1987.

O mausoléu Hanyang, que tem mais de 1200 anos de história e está inserido no primeiro museu subterrâneo moderno da China. Ao entrar-se  na área onde se ele se encontra, um amplo gramado e bosques exuberantes conduzem até o interior, onde se vê cemitérios dos dois lados. O mausoléu ocupa uma área de 20 kms quadrados. A construção do mausoléu Hanyang começou quatro anos após a subida ao trono do Imperador Jingdi. Doze anos depois de iniciar seu mandato, ele morreu. Então, a imperatriz Wang e Liu Che, filho dos dois, decidiram prosseguir na obra, que levou 28 anos para ser concluída.

No caminho que se faz pelo museu subterrâneo várias valas retangulares, cada uma proporcional ao tamanho das províncias existentes na China naquela época. Em cada uma delas, miniaturas representam quais as atividades desenvolvidas em cada uma dessas províncias. Uma obra incrível, conforme mostrarão as fotos. No local há um total de 10 mil dessas valas, sendo que até aqui apenas 190 foram identificadas.

Noutro ponto, tudo o que o Imperador queria levar para sua sobrevivência no outro mundo. Assim, se vê rebanhos inteiros de ovelhas, cães, cavalos e até, porcas grávidas para que parissem na sua outra vida.

O corpo das estátuas lá existentes é feito de terracota. Os braços são de madeira, para que pudessem  mover-se livremente. As vestimentas maravilhosas eram feitas de seda, linho e até couro. As figuras são as maiores do gênero depois  do exército de terracota mas, diferentemente dos guerreiros, que têm traços duros no rosto, as estátuas de Hanyang exibem semblantes pacíficos e alegres, fruto da harmonia da sociedade na época.

Um lugar espetacular. Quem visitar os Guerreiros de Terracota, não pode deixar de visitar essa histórica maravilha arquitetônica da China antiga. Fomos para o aeroporto radiantes por termos saído de Xian com uma bagagem cheia do melhor da cultura e da história desse complexo País.

Na próxima postagem, uma cidade no meio das montanhas, de cerca de mil anos, diferente de tudo o que já havíamos visto até então, além das fotos das montanhas mais lindas da China, dito por eles e que obteve nossa plena concordância. Aguardem. Beijos a todos. Narcísio e Dirlei.


Um parque ajardinado e calçado para se chegar ao museu do Exército de Terracota


O inigualável Exército de Terracota


As faces, uma diferente da outra






Os cavalos com o espaço da carruagem que era de madeira e desapareceu com o tempo



Detalhe dos guardiões dos flancos, voltados para a parede



Os comandantes, com chapéu diferente


Área de recuperação dos guerreiros desenterrados aos pedaços






A segunda trincheira, ainda em escavação, cavalaria e soldados



Aqui, o trabalho todo por fazer


Cavalo ainda por desenterrar

Um comandante

Trincheira  3, o centro de comando com  70 oficiais de alta patente



O museu das carruagens, com aquelas retiradas do túmulo do Imperador Qin



Área externa dos modernos museus


Torre do grande muro de Xian


Avenida sobre o muro, com a poluição do carvão ao fundo



Vistas da cidade e dos jardins desde o alto do muro de Xian







O extraordinário Mausoléu subterrâneo de Hanyang







As manadas de ovelhas, cavalos, cachorros e até porcas grávidas. Provisões para a outra vida


No primeiro plano, as porcas prenhes



A moderna estrutura do museu subterrâneo de 69 milhões de dólares. Enquanto isso, no Brasil........

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