terça-feira, 6 de maio de 2014

O ENIGMÁTICO TIBET, LHASA, POTALA, SEU POVO E SEUS TEMPLOS

Seguidores e Seguidoras,

Chengdu, pela sua localização próxima do Himalaia, é um dos mais populares pontos de partida para o Tibet, por uma simples razão. Como os aviões têm que atravessar o imenso Himalaia em grande altitude, mais de 12 mil metros, que deve ser alcançada em pouco tempo, gastam mais combustível e, por isso, sair dali é o ideal.

O voo foi num avião de grande porte, desses de viagens internacionais. Ficamos mais tranquilos porque é mais estável que os aviões menores, mormente depois de algumas regiões turbulentas que enfrentamos em pequenos voos pela China. Depois que o avião superou a poluição do carvão que cobre toda a China, a paisagem que se descortinou foi maravilhosa. Uma imensa e alta cadeia de montanhas sempre desafiando o avião a ir um pouco mais alto. Um espetáculo apresentado durante toda a viagem. Um pouco tensa, porém, a chegada em Lhasa. Olha-se pela janela do avião e só se vê montanhas altas. Onde aquele avião, de grande porte, iria encontrar um lugar para pousar no meio dela? O pouso se aproximava e nada de clareira ou planície. De repente se descortina um vale sinuoso entre as montanhas, o avião se esgueira por ele, asas quase a tocar nas montanhas, até se descortinar o aeroporto e, finalmente no Tibet. Ufa!
Já do alto logo se vê porque precisamos de autorização especial para entrar no Tibet. Aviões militares e tanques de guerra por toda parte. É considerada zona de guerra e de alta possibilidade de atentados já que até hoje o povo tibetano não se conforma com a invasão e os massacres lá realizados pelos chineses de Mao Tse Tung e seus sucessores. A fiscalização é intensa, até depois de você sair do aeroporto. Na moderna estrada de 60 km desde o aeroporto até a Capital Lhasa, vários pontos de checagem, com humilhação especial aos humildes camponeses tibetanos. Paramos num desses postos de controle militar, ficamos no carro e nosso guia foi até a barreira apresentar nossa documentação. Quando lá estávamos, chegaram ônibus com tibetanos vindo do interior. Todos tiveram que desembarcar, entrar no prédio para serem minuciosamente revistados e, só depois, no outro lado, puderam retomar o ônibus. Revistados e humilhados na sua própria terra, no seu próprio país, invadido por alienígenas.

Nesse ambiente chegamos a Lhasa, onde ficamos hospedados no melhor hotel e spa da região, o St. Régis Lhasa Hotel. Bela e ampla suíte, boa cozinha, bons vinhos, bom pessoal de apoio. Recomendamos.

Como a altitude de Lhasa é de cerca de 3.700 m, ficamos o resto da tarde a descansar no hotel e a nos ambientarmos para enfrentarmos a longa programação para os dias seguintes no Tibet. E valeu muito a pena.

O Tibet é limitado em três lados  por algumas das cadeias montanhosas mais altas do mundo - Himalaia, Karakoram e Kunlun - e permaneceu em relativo isolamento. Protegido, primeiro, por sua inacessibilidade, e depois, nos tempos das viagens aéreas, pela ocupação chinesa, e o 'Teto do Mundo' só foi aberto aos visitantes estrangeiros recentemente. Lhasa, a única cidade grande, manteve seu núcleo espiritual: o Templo Jokhang; o venerado palácio dos dalai lamas, o Potala; e grandes mosteiros, como Drepung e Sera. Aonde quer que se vá, o Tibet oferece vistas panorâmicas nos desertos de grandes altitudes, debruados de picos. Mas a profundidade do lago Namtso e os altíssimos picos do Everest valem a visita.

Capital desde o 7º século, Lhasa serve de introdução ao Tibet. Belíssima sede dolorosamente desocupada do Dalai Lama, o Palácio de Potala domina a cidade no topo do Monte Marpo. A antiga área tibetana é a mais interessante de Lhasa. A principal atração é o Templo de Jokhang. Em volta dele fica Bakhor, com templos cheios de fumaça e ruelas de pedra. Os tibetanos vêm aqui em peregrinação. O acréscimo de construções de concreto e cyber cafés mostra como a cidade mudou nas últimas décadas.

Com o nosso guia Ra, um tibetano mais velho, com um sotaque bem pesado cujo inglês era difícil de decifrar fomos conhecer Lhasa e seus tesouros.

Começamos pelo Templo de Jokhang. O barulho constante, a parafernália espalhafatosa para orações, as tremeluzentes lamparinas de manteiga e as guirlandas de incenso forte fazem da visita ao Templo Jokhang uma experiência assustadora e inesquecível. Foi fundado em 639 para alojar a imagem de Buda trazida como dote pela princesa Bhrikuti, do Nepal, ao se casar com o rei Songtsen Gampo. A localização foi escolhida por outra esposa do rei, a princesa consorte Wencheng, da China, dizendo que uma gigantesca mulher demoníaca dormitava embaixo do local e era preciso que um templo fosse erguido sobre seu coração para dominá-la. Após a morte do rei, o dote da própria Wencheng, uma imagem de Jowo Sakyamuni foi transferida da cidade de Remoche para Jonkhang, onde ficaria  protegida das forças invasoras.

Após cruzarmos a grande praça esfumaçada por incenso e fiéis em procissão permanente ao redor do templo, em filas apertadas penetramos na sua penumbra para visitá-lo. Lá no seu interior, todos os seus tesouros, obras de arte, santuários, capelas internas, ornamentos nos telhados, oferendas de manteiga vegetal feitas pelos fiéis para manter as velas acesas,  tudo até chegarmos no seu topo donde se tem uma vista privilegiada da cidade e seus arredores, sem contar os lindos telhados dos aposentos dos monges e do Dalai Lama. Exótica e interessantes, um visita necessária para se entrar no clima do verdadeiro Tibet.

Saídos dali, fomos perambular pelo centro histórico, muito bem preservado, da capital Lhasa, o Barkhor, cujo centro de referência é a praça onde se encontra o Templo Jokhang. Bairro mais movimentado de Lhasa, o fascinante Barkhor fica cheio de peregrinos, moradores e turistas interessados em visitar o templo. O circuito de peregrinação ou kora, anda no sentido horário em volta o Jokhang, é o mais santo do Tibet e existe desde o século 7º. As bancas do mercado sempre ladearam o trajeto, comerciando de tudo, roupas, carnes, jóias, pérolas, comida, artigos religiosos, tudo para servir os locais e os peregrinos.  Muitas das construções são antigas, até do século 8º, mantendo, suas vielas, um caráter único e arcaico. Destacam-se as grandes bandeiras de orações,  os queimadores de incenso tipo fornos cônicos, o antigo prédio que no século 18 abrigou os representantes do Imperador Qing, além de pequenos templos e bancas que vendem desde chapéu típico da região a bandeiras de oração. Um lugar incrível, diferente e imperdível.

Terminada a visita ao centro histórico, como já passava do meio dia, nosso carro se afastou da cidade e começou a subir uma montanha onde, no alto, se vislumbrava um pequeno mosteiro pendurado no Himalaia. Já próximo dele, ar rarefeito, o carro nos deixou num pequeno plano que dava para o precipício, onde havia sido armada uma tenda para o nosso almoço ao ar livre, com o mosteiro nas nossas costas e a cidade de Lhasa aos nossos pés. Comida típica, cerveja, sucos, serviço de primeira, foi um almoço mágico só comparado aos que tivemos nas montanhas do Atacama, no Chile. Indescritível.

As surpresas, todavia, não tinham terminado. Findo o almoço, fomos conduzidos ao interior do Templo Pabonka pouco visitado por turistas, e onde só nós nos encontrávamos além dos monges que ali residem. Na subida até o seu topo, guiados por um aspirante a monge, passamos ao largo de uma sala escura onde diversos monges, sentados no chão, cantavam e entoavam suas escrituras milenares, gravadas em papel grosso num livro comprido e retangular. No retorno e já descendo, quando passamos por ali, o monge mais velho fez um sinal para que entrássemos naquele recinto e passássemos entre eles sentados e a mesa baixa no centro. Um momento sublime, inusitado e de profundo respeito. Passamos por eles que nos cumprimentavam enquanto entoavam seus  cantos e nos abençoavam, num clima de paz e serenidade. Levamos dali, para sempre em nossas mentes, o carinho e o sorriso sincero da face daqueles monges que tão carinhosamente permitiram nossa entrada no seu recinto mais íntimo. Inesquecível.

Dali, ainda nos arredores da cidade, debaixo de um sol quente, fomos conhecer o famoso Mosteiro Sera. Fundado em 1419, por discípulos  da ordem Gelugpa, o mosteiro era famoso por seus monges guerreiros, o dob-doa. Chegou a abrigar  5 mil monges; agora existe menos de um décimo  desse número. Os centros de atividades em volta de suas três faculdades são visitados no sentido horário. Virando a esquerda no caminho principal para chegar à primeira faculdade, Sera Me, utilizada para ensinar os fundamentos do budismo. A Sera Ngag-Pa, morro acima, era para estudos tântricos e Sera Je, ao lado, destinava-se ao ensinamento de monges visitantes. Cada construção tem um salão iluminado e capelas na parte de trás, cheias de esculturas. A edificação maior e mais notável é Tsogchen, situada mais acima na colina. Exibe Thangkas do teto ao chão, um trono usado pelo 13º dalai lama e imagens dele e de Sakya Yeshe, fundador do mosteiro Sera. No topo do caminho fica um pátio de debates a céu aberto onde, todos os dias, às 15,30, os monges se reunem para discussões, com gestos ritualistas, bater palmas ou pés quando um objetivo é alcançado. A peregrinação de Sera, que segue para oeste na entrada principal, leva uma hora e passa alguns relevos na rocha. Pela sua importância para o Tibet e a proximidade com Lhasa, recomendamos sua visita.

O dia foi intenso, cheio de surpresas e momentos emocionantes. Um belo resumo do Tibet. Voltamos para o hotel onde tomamos um delicioso chá da tarde numa conversa animada com um casal de americanos muito simpáticos que lá conhecemos, o John e a Verônica. Depois jantamos no ótimo restaurante do hotel, sempre acompanhados de um bom vinho e fomos descansar para as emoções do dia seguinte.

O dia foi dedicado ao ícone do Tibet, o majestoso e magnífico Palácio de Potala. O dia estava ensolarado e ele se mostrou radiante e com todo o seu esplendor para nós.

Erguido no ponto mais alto de Lhasa, o morro Marpo, o palácio de Potala é a maior estrutura monumental do Tibet. Com 13 andares e mais de mil aposentos, já foi residência do monge e líder tibetano, o dalai lama e, desse modo, centro dos poderes espiritual e temporal. Depois da fuga do atual dalai lama para a Índia, em 1959, tornou-se um imenso museu, que serve de lembrança da rica e devota cultura religiosa do Tibet, embora os eventos políticos e cerimônias religiosas mais importantes ainda se realizem ali. O primeiro palácio foi construído por Songtsen Gampo em 631, fundindo-se depois no edifício maior que existe hoje. Há duas seções principais: O Palácio Branco, de 1645, e o Palácio Vermelho, terminado em 1693. As vistas do Tibet desde o seu topo, são de tirar o fôlego. 

Seus telhados dourados parecem flutuar acima do palácio e cobrem as grandes capelas funerárias, as enormes Stupas douradas, dedicadas aos dalai-lamas anteriores. A capela do 5º dalai-lama é dourada e contem aproximadamente 3000 kilos de ouro e a do 13º é decorada com pedras preciosas e ouro, com seus restos mumificados e tem quase 13 metros de altura. Essa ala do palácio é impressionante pelo tamanho e decoração dessas stupas ou tumbas dos antigos dalai-lamas. Muitas salas para orações e para recepções, mandalas cobertas de metais e pedras preciosas, enfim, um lugar mágico, rico, poderoso, que impacta todos os que o visitam e  respeitam a religião e os costumes desse povo tão sofrido, pelo meio ambiente e pelos seus dominadores. Um lugar incomparável e cuja visita é obrigatória.

Depois dali o guia nos sugeriu uma visita ao Hospital Tradicional de Medicina Tibetana. Ao entrarmos lá vimos que nada diferia dos nossos hospitais do SUS e desistimos de fazê-la já que lá nada havia do nosso interesse. Vale para quem acredita, quer fazer uma consulta e comprar os remédios típicos da medicina tibetana. Como este não era  o nosso interesse resolvemos dar mais uma volta pela cidade de Lhasa, seu centro velho e o seu contratante moderno, criado pelos chineses e, assim, encerramos esta visita que ficará para sempre gravada nas nossas mentes e nossos corações, tão impactante foi essa visita a esse lugar único chamado Tibet.

A próxima postagem não será menos interessante já que do Tibet fomos para Xian, a terra dos famosos Guerreiros de Terracota. Está imperdível. Aguardem. Beijos a todos. Narcísio e Dirlei.


O Barkhor, o centro histórico de Lhasa, Capital do Tibet



Prédio histórico que abrigou os funcionários do Imperador Qing

Dispersores de incenso, defronte  o Templo Jokhang


Peregrinção permanente na frente do Templo Jokhang

Esta e as seguintes são do interior do Templo mais importante do Tibet, o Budista Jokhang








Os belos e requintados telhados do templo Jokhang


Visão do Himalaia desde o teto do templo



A grande praça defronte o Templo Jokhang

Vista ao longe, do Palácio Potala, desde o Jokhang




Esta e as próximas fotos são das labirínticas ruas do Barkhor,  o centro histórico de Lhasa













O Mosteiro Pabonka, nas montanhas do Tibet

O almoço ao ar livre nas montanhas

Bandeirinhas de preces budistas, na montanha

A blogueira descansando depois do almoço com o Mosteiro Pabonka ao fundo

A tenda do almoço

Os Iaks pastando na planície

Esta e as próximas, do Mosteiro Pabonka, onde fomos recebidos pelos monges em oração



Esta e as próximas são do Templo Sera e suas faculdades de ensinamento budista











Esta e as próximas, são do magnífico Palácio Potala,  residência dos Dalai-lamas, líderes do antigo Tibet



Os peregrinos fazendo a procissão ao redor da montanha onde está o Potala





As íngremes escadarias para o topo do Potala Palace

Paisagens do Himalaia desde o Potala


O importante portão de entrada do Palácio Potala



A cidade de Lhasa, aos pés do Potala







Mais visões do centro de Lhasa







4 comentários:

  1. Maravilhoso! Realmente, apaixonante viajar com vocês! Abraços

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  2. A China que eu quero conhecer ! Obrigado pela impressionante viagem virtual que nos foi proporcionada pelo blogueiro(a)!

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  3. Adorei o relato, imagino que as emoções sentidas nesses momentos superam em muito em lindas fotos!

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  4. Obrigado pelo magnífico compartilhar!

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