segunda-feira, 5 de maio de 2014

A MILENAR PINGYAO E O GRANDE BUDA DE LESHAN

Seguidores e Seguidoras,


Quando chegamos em Pingyao, vindos de Datong, nosso guia, o mais crítico de todos os que tivemos, logo nos deu a informação de que o megalomaníaco prefeito de Datong, quando faltou dinheiro lá conforme noticiamos na postagem anterior, se transferiu para ali e as evidências estavam no ar.

Enormes blocos de novos prédios sendo construídos e, tendo em vista que o grande muro que cerca a cidade foi um dos poucos da China que não foi derrubado durante a Revolução Cultural de Mao, o novo prefeito (lá a indicação é feita pelo partidão) decidiu que nada poderia empanar sua beleza. Como havia densa população instalada na parte externa do muro, o clima era de guerra. Parte já havia sido demolida e o muro aparecia majestoso e outra parte ainda restava intacta dando uma noção da grandiosidade do deslocamento compulsório de pessoas que estava acontecendo. Os residentes recebem um aviso que têm não mais que 30 dias para sair do local da obra. Segundo o guia, se a família não sair, é expulsa pelo exército, não sem antes receber alguns avisos como corte de água,  de energia, etc. Incrível é que alguns protestam e resistem até a última consequência.

O nosso carro entrou na cidade murada mas, como nosso hotel ficava na parte do casario histórico, fomos até certo ponto e o resto tivemos que fazer a pé até o hotel, cujo pessoal veio ao nosso encontro para carregar as malas.

Ficamos hospedados no excelente Hotel Jing Residence, uma casa milenar transformada num hotel boutique de alto luxo. Sua entrada é mais uma, dentre todo o casario milenar que dá diretamente na rua. Quando se entra, após o lobby de recepção, têm-se acesso a um pátio interno, um courtyard, que possibilita o acesso a outras dependências tipo chalés, estilo de construção muito comum no local. A nossa suíte, localizada no courtyard, era excelente, como o eram também a cozinha e a carta de vinhos.

Após o jantar demos uma pequena volta na labiríntica cidade antiga, para apreciá-la à noite com suas típicas lanternas vermelhas acesas e, no dia seguinte, agora com a ajuda do guia, mergulhamos nessa incrível cidade.

Cercadas por um dos poucos muros intactos do período Ming, as ruas de Pingyao têm uma fartura de edificações tradicionais chinesas, como casas com pátios, templos e mais de 3 mil lojas históricas. O tesouro arquitetônico Ming e Qing da cidade é um legado dos dias de opulência como centro bancário, que teve fim quando a dinastia Qing se tornou inadimplente e abdicou, deixando os bancos sem nada. A transferência das finanças do país para Xangai e Hong Kong deixou a cidade estagnada, impedindo seu desenvolvimento, o que, no fim das contas, preservou suas características.

Começamos a visita pelo Rishenchang, um museu bancário onde se localizou o primeiro banco de saques da China, fundado em 1824. Depois de uma caminhada pela ruas desse tesouro da humanidade, nos dirigimos até o Muro da Cidade. Com ameias, com 12m de altura, data de 1370. Diz-se que tem o desenho de uma tartaruga. A cabeça fica na porta sul, as quatro patas nas portas leste e oeste e a cauda na porta norte. Demos uma caminhada na avenida que fica sobre ele, de onde, além de termos uma visão de cima da cidade, divisamos as grandes e belas torres que ornamentam suas entradas, destacando-se a Torre do Sino, com seu diversos beirais e a Torre Kuixing, um pavilhão extravagante, com projeto incomum, tem oito lados e se eleva acima das ameias. Seu nome vem  de uma estrela das 28 constelações do zodíaco chinês.

Visitamos alguns museus de objetos locais e móveis até chegarmos na Comarca de Yamen. Departamento de Justiça de Pingyao durante as dinastias Ming e Qing, estes escritórios representavam o mundo secular, enquanto os templos taoístas, espelhando a Comarca Yamen, do outro lado do Nan Dajie, representavam o reino espiritual. No Departamento de Justiça tivemos oportunidade de visitar as antigas celas, os horrendos instrumentos de tortura e punição além de um teatro, que ocorre em determinados horários, onde todos vestidos a caráter, encenam um julgamento nos exatos termos em que ocorria na antiguidade. No templo Taoísta, o que marcou foi a representação do céu e do inferno, este com as mais bárbaras formas de punição para cada tipo de pecado. Muito interessante.

Para quem tiver interesse de conhecer a China como era há quase mil anos passados, Pingyao é um prato cheio. Por entre suas ruas estreitas, suas casas típicas, sua arquitetura, dá quase para sentir o ambiente de negócios barulhento daquele templo de glória quando a cidade era a capital financeira da China. Imperdível.

Na manhã seguinte voamos, desde a cidade vizinha de Taiyan, onde ficamos hospedados, para a grande Chengdu, capital de sua província, com mais de 14 milhões de habitantes, onde ficamos hospedados no excelente Shangri-la, que já havíamos experimentado na cidade de Tóquio. Uma cidade belíssima, bem urbanizada, florida, inclusive o grande rio que a atravessa, muito bem aproveitado, avenidas largas e ajardinadas, uma das mais belas que visitamos na China. Pena que a poluição, também aqui reinante nesta cidade próxima do Himalaia e ponto de partida para o Tibet, empane um pouco essa beleza.

Logo na chegada já nos dirigimos para visitar, na vizinha cidade de Leshan, o dafo (Grande Buda) uma das mais visitadas atrações turísticas da China. Após o almoço num restaurante típico local, pegamos um barco, de onde se tem a visão mais completa e panorâmica desse imenso Buda, com 71m de altura, que está esculpido sobre o arenito vermelho da montanha de Lingyun, de frente para a traiçoeira  junção dos rios Min, Dadu e Qingyi. O encontro das águas é um espetáculos à parte. Como um dos rios é mais caudaloso e violento, ele chega ao encontro dos outros com tanta força que sua pressão faz com que as águas dos outros rios fiquem mais altas, num fenômeno muito interessante. 

Em 713, um monge, Haitong, quis salvaguardar os barcos que normalmente naufragavam  no violento encontro das águas no local, criando um ícone protetor nas rochas - embora fosse também prático, já que as pedras resultantes da escavação da escultura, preencheria os bancos de areia e o grande redemoinho ali presentes. Quando o grande Buda foi concluído, outros templos haviam sido construídos em volta dele e na adjacente montanha Wuyou, e hoje uma rede de trilhas liga este Patrimônio da Unesco.

A  visão que se tem desde o barco, que para nas suas proximidades, é indescritível e deveras impactante e hipnotizante. O seu tamanho e o seu semblante complacente mirando aquele encontro violento dos três rios, dá ao mesmo tempo uma sensação de poder e de paz. Impossível ser fiel na descrição das sensações que tivemos neste lugar mágico e único. Quem puder, não perca já que há muitos voos para Chengdu, a cidade polo da região.

Foram dois dias mágicos, de sensações incríveis, tudo nos preparando para o próximo destino, o Tibet, no alto dos Himalaias. Este será o objeto da próxima postagem. Até. Beijos a todos. Narcísio e Dirlei.


O courtyard, ou pátio interno, do nosso hotel em Pingyao, com seus chalés típicos internos

A frente do nosso hotel

Esta e as próximas são do casario milenar de Pingyao






Aqui o primeiro Banco de Saques da China, com representação de seu proprietário negociando sem nunca olhar nos olhos  outro, proibido na época

Mais portais e casas do centro histórico de Pingyao



A torre do Sino

Visão da cidade desde o alto do muro


Aqui a urbanização externa do muro que desalojou muitas famílias do local






Esta e as próximas são do Departamento de Justiça com  representação de um julgamento da época






Aqui o queixoso com os guardas prontos para punir o réu

O réu ao lado do queixoso

O Magistrado com as réguas no pote. Quando lançava ao chão a vermelha, pena de morte. A preta, punição com as armas portadas pelos guardas



O Templo Taoísta


Castigo no inferno para as mulheres pecadoras



O ancoradouro de Leshan, de onde partem os barcos para visitar o Grande Buda

Sua majestade, o Grande Buda de Leshan








A cidade de Chengdu

Publicidade da Copa no Brasil, no aeroporto de Chengdu, no interior da China





Um comentário:

  1. Muito interessante, lindas fotos!
    Curiosa pelo relato sobre o Tibet ... bjos

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