sábado, 23 de março de 2013

Varanasi e muitos problemas

Seguidores e Seguidoras,


Ficamos sem postar nada nos últimos dias devido a sérios problemas ocorridos em Varanasi e no voo de lá para o Nepal. Deveríamos estar lá agora. Estamos, todavia, em Delhi. No final desta postagem contaremos em detalhes o que aconteceu.

Antes de tudo, as boas vindas ao Oliver, o somelier do hotel onde estamos, um alemão que morou muito tempo no Brasil e, por isso, se sente brasileiro, e que nos recebeu muito bem ontem no jantar e com quem batemos longo papo e recebemos boas dicas da cidade. A propósito, o jantar foi uma bisteca fiorentina, com o cabernet sauvignon argentino. Excelente carne e bem assada. 

Vamos, pois, ao que vimos em Varanasi. Lá chegamos no início da tarde, fomos hospedados no melhor hotel da cidade, da rede Taj, numa grande suíte onde havia se hospedado o presidente do Laos e, após o breve descanso saímos para conhecer Varanasi.

Em termos de cidade não temos a menor dúvida de dizer que foi a pior e mais feia cidade que visitamos na Índia. O trânsito é infernal. As ruas sempre lotadas de tudo, sendo impossível caminhar lá porque você está sempre desviando de algo, sendo pisado ou recebendo uma buzinada nos ouvidos, de motos, carros e tuc-tuc transitando no meio da multidão onde só deveriam estar pessoas, o que já seria demais. Nosso guia, no meio desse enrosco todo, tentou nos levar para conhecer o Templo Vishwanath, dedicado a Shiva, coroado por 759 kg de ouro na sua torre principal, erguida em 1777. Não valeu a pena. Para se chegar lá conhecemos outra faceta dessa horrível cidade. Labirintos estreitos entre a casas, onde só podem estar duas pessoas lado a lado. Por isso, necessário andar em fila indiana, desviando de tudo, inclusive vacas e motos buzinando. Depois de quase meia hora andando, chegamos no local do dito templo. Tivemos que deixar nossas bolsas num lugar de segurança precária e só levar dinheiro e passaporte. Depois passamos por um detector de metal e por duas revistas pessoais, inclusive abrindo cada carteira de dinheiro, em todas as suas pequenas repartições. Começamos a ficar irritados. Quando lá chegamos, ainda nesse beco estreito, vimos, de fora, a dita torre de ouro. Nada que valha a pena diante de tudo o que já vimos até aqui. O guia nos disse que poderíamos entrar no pátio templo, porque o templo estava em cerimônia e não poderíamos visitá-lo em detalhes. Aceitamos. Para nossa surpresa, pediram que antes de entrar teríamos que passar por uma comissão de militares (sim, aqui os militares trabalham para as igrejas hindus, só para elas) que iria checar e registrar nossos passaportes. Rodamos a baiana. Dissemos para o guia que já nos bastava as múltiplas checagens a que nos submetemos em aeroportos e hotéis. Jamais, porém, nos submeteríamos àquela humilhação para entrar na m.. de um templo. Demos meia volta e saímos dali indignados com tudo aquilo. Por isso, fujam, neguem, esperneiem quando algum guia propor visita ao Templo Vishwanath em Varanasi. Não vale a pena. Não recomendamos mesmo.

Em seguida fomos visitar o templo dedicado à deusa Índia. Sim o país também é uma deusa, com imagem e tudo. Mostraremos a foto. No interior do templo, que é uma casa, no chão o que vale a visita. Um enorme mapa da Índia, Himalaya e países vizinhos, todo feito de mármore branco, em alto relevo, revelando todos os acidentes geográficos e profundidades, inclusive dos mares que a rodeiam. foi inaugurado por Ghandi. Muito interessante.

Dali fomos em direção ao Ganges para ver uma cerimônia de louvor ao deus Ganges e a todos os principais deuses da Índia, chamada aarti. Enquanto esperávamos o evento, fomos dar uma andada pela margens do rio e de repente nos defrontamos com quatro fogueiras com fogo alto, de cremação de corpos. Bem na nossa frente, outra forma dos hindus se desfazerem de seus mortos. Um corpo, dentro de um barco, estavam sendo enrolado com panos bem coloridos e brilhantes, para ser jogado diretamente no rio. Coisas chocantes e muito diferente dos nossos usos.

Dali retornamos ao local onde ocorreria o aarti. No final de uma escadaria havia várias plataformas, encimadas com enfeites de luzes coloridas, onde vários sacerdotes se postaram de frente para o rio e começou a cerimônia. Sobre cada sacerdote um sino batia e havia muitos cantos. Depois esses sacerdotes começaram fazer as oferendas aos deuses, ora jogando flores, ora comida, ora levantando grandes castiçais com várias velas acesas ou com fogo ardendo em chamas altas e com os quais faziam evoluções em todas as direções. Uma coisa bem diferente, que esperamos que a fotos noturnas possam dar um boa ideia do que foi. Uma das poucas coisas que vale ser vista em Varanasi. Achamos até que seria melhor se víssemos do rio dentro de um barco. Vai a sugestão. 

Varanasi é a cidade hindu mais sagrada da Índia, com tradições espirituais e religiosas que remontam  há quase três mil anos. Trata-se da cidade de Shiva, o mais importante dentre os 12 lugares em que o deus se refugiou. Santificadas pela onipresença de Shiva e pelo Ganges sagrado, as quase 90 Ghats, grandes mansões de marajás e pessoas ricas, todas construídas nas margens do rio para que eles, de lá, sem se misturar com o povão, façam suas preces e homenagens. O hinduísmo recomenda que pelo menos uma vez na vida seus fiéis venham se banhar no Ganges, em Varanasi e, se possível, também, ali cremar seus mortos ou jogar as cinzas de alguém cremado fora dali.

No dia seguinte acordamos às 05,00 h da manhã para um passeio de barco pelo Ganges. Os barcos são muito precários e sua maioria movida a remo por um mirrado indiano. No nosso barco só nós, o guia Jaideep e o mirrado. Andamos rio acima vendo todos os grandes ghats e templos nas íngremes margens, os inúmeros barcos ali navegando, os hindus, vestidos ou nus se banhando, bebendo água intensamente poluída ou ali escovando seus dentes e fazendo todas as suas necessidades. Na  volta, agora rio abaixo, assistimos o nascer do sol avermelhado refletindo no rio e, agora de barco, passamos pelo local onde se concentram as cremações, sendo que, diferente da noite anterior, só havia poucas cremações já na fase final do processo. Apesar da precariedade e insegurança, para quem já está aqui,é uma das poucas opções de algo diferente a fazer.

Voltamos para o hotel por volta das 07,00 horas e depois do café da manhã, nos dirigimos ao aeroporto para nos irmos ao Nepal. O processo de saída da Índia é muito burocrático e com problemas que só relataremos em detalhes, por questão de segurança, no relatório final da viagem, que faremos no Brasil.

Por volta das 16,00 horas, o avião levantou voo para Kathmandu, no Nepal. Sofreu um pouco de atraso por causa do mau tempo no destino. Quando chegamos sobre o Nepal nuvens pesadas e altas estavam abaixo nós. O avião deu várias voltas sobre aquelas nuvens e nada de pousar. Depois de cerca de meia hora o piloto disse que ia fazer uma tentativa e pediu que todos se preparassem. Quando entrou nas nuvens, o avião chacoalhou muito, os motores começaram a emitir um barulho estranho, com falhas constantes e perda de potência, numa situação bem crítica, mas logo em seguida conseguiu subir e ficar acima das nuvens. Apavorante. Passados poucos minutos, o piloto disse que iria fazer a segunda tentativa. Agora quase que não estaríamos mais aqui para contar esta história. O avião bateu na nuvens provocando um barulho como se tivesse batido numa rocha. Os motores trabalhando a todo o vapor, de repente pararam. O avião começou a cair. Para sorte de todos, chegamos num ponto onde os motores conseguiram ar para retomarem sua força e foi o que conseguiu nos tirar dali. O avião ficou lá rodando, com todo mundo apavorado com a possibilidade de nova tentativa. Não houve. O avião retornou a Varanasi. Lá ficamos no solo, dentro do avião, por mais de uma hora, esperando melhora do tempo. Notícias da tripulação, ora que iríamos, ora que não. 

Finalmente desembarcamos. Omissão total da empresa aérea e da nossa agência de viagens aqui na Índia, a Minar, que foi a única empresa que não mandou representante ao aeroporto para dar assistência aos clientes. Ninguém se fez presente para orientação. Tivemos que cuidar de nós mesmos. Depois de muita discussão, disseram que havia possibilidade de nos levar ao Nepal, num voo charter no dia seguinte, já que não haveria voo regular. Com essa expectativa, fomos para uma espelunca de hotel que a companhia aérea nos deu, para esperar, no dia seguinte, pela manhã, uma ligação da Air Índia sobre qual o encaminhamento que seria dado. Dita ligação nunca veio. Dito voo charter não saiu. Depois de muitas ligações e inviabilizada a ida para o Nepal, só por volta dos meio dia a empresa nos deu uma passagem para Delhi. Aqui estamos. Ficaríamos aqui dois dias. Agora ficaremos quatro. Menos mal que num hotel excelente,  o The Leela Palace, na melhor e maior suíte que ficamos nesta viagem. Falaremos disso noutra postagem.

Esta a nossa aventura e desventura em Varanasi. Estamos bem, descansando para começarmos a curtir esta enorme cidade. Tudo estará aqui. Beijos a todos. Narcísio e Dirlei.

Jardins de piscina do excelente hotel de Khajurajo

Tempo da deusa Índia, em Varanasi


Mapa, em alto relevo e mármore, da deusa Índia

A imagem da deua Índia

Cenas das ruas de Varanasi








Nas margens do Ganges, local do aarti

Vacas no palco para assistir do aarti

Banho no Ganges

Barcos postados para ver a aarti

Oferendas ao Ganges

Fogueiras de cremação

Cenas da cerimônia do aarti

Pessoas assistindo o aarti do rio ganges


Mais cenas da cerimônia







Os blogueiros, de barco no Ganges

Pessoas se banhando no Ganges

Cremação

Corpo sendo coberto de lenha para a cremação

Os Ghats, mansões dos ricos na beira do Ganges

Nascer do sol no Ganges

Margens dos Ganges com seu ghats


Nascer do sol no Ganges

Cenas do Ganges







Templo tipo torre de Pisa, na Itália

Lenha para ser vendida para cremações

Local de cremações

Muitos barcos no Ganges

2 comentários:

  1. Nossa que aventura, feliz por estarem a salvo. Com certeza uma viagem inesquecível!!!

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  2. Caríssimos. Thriller total! Estou aqui agarrado na poltrona! Gosto muito de aventura, mas igual a essa que vocês passaram imagino que não gostaria. Ainda bem que tudo terminou bem.
    Beijos.
    Paulo e Heloisa.

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