quarta-feira, 27 de março de 2013

Fronteira Índia-Paquistão - Surreal

Seguidores e Seguidoras,


Ontem foi dia de sair de Délhi e experimentar um dos meios de transporte mais comuns da Índia. O trem, para o deslocamento até a Caxemira/Punjab, cidade de Amritsar. Viajamos na classe executiva mas era tão ruim que ficamos imaginando como seria a econômica. O diferencial foi o fato de servirem comida e bebida quase a viagem inteira, embora tivéssemos feito um fast breakfest no Leela Palace, o que fez com que aceitássemos apenas água. 

Viajamos o tempo todo por uma planície a perder de vista para qualquer lado que olhássemos. Foram 400 kms de terra fértil e cultivada, especialmente de trigo. Imaginamos, pelo que vimos até aqui nas nossas andanças pelo País, que aqui é o celeiro da Índia.

Depois de um pouco mais de 6 horas de viagem, chegamos em Amritsar. Pensávamos que poderíamos encontrar uma cidade um pouco diferente da Índia usual, mas, pelo menos nas proximidades da estação de trem, era a mesma confusão de sempre. A blogueira, inclusive, assistiu uma briga de trânsito, com puxões de cabelo e ameaça de pedrada, enquanto o blogueiro estava sacando dinheiro num caixa automático. Meio assustador. O centro da cidade, todavia, apresentou um pequena melhora, sendo um pouquinho mais organizado.

Depois de um pequeno descanso no hotel, um casarão colonial antigo transformado em hospedagem, partimos para a fronteira Índia/Paquistão, que fica a uns 25 km do centro da cidade. No caminho, uma fila enorme de caminhões estacionados aguardando a entrada no Paquistão. Chegando na fronteira, uma multidão, já que aqui hoje é feriado, postada numa fila para a checagem antes de nos aproximarmos da cerimônia de arriamento das bandeiras dos dois países. Duas grandes arquibancadas, uma de cada lado, para assistir a cerimônia. A do lado indiano, em função do feriado, estava lotada com milhares de pessoas. Do lado paquistanês havia claros na arquibancada. Começou, então, um dos espetáculos mais surreal que já assistimos.

De cada lado, as torcidas cantavam, dançavam e se provocavam mutuamente, com vaias e gritos de guerra. Quando se aproximou as 17 horas, começou o  espetáculo militar. Militares, ricamente vestidos, do lado indiano, com uniforme em tom caqui com turbante vermelho e amarelo. Do lado paquistanês, azul escuro com turbante azul e branco. Vimos melhor o que acontecia no lado indiano. Um dos militares dava um grito de ordem, o mais alto e longo possível, no que era seguido por um paquistanês, um tentando superar o outro em intensidade e duração. Isso se repetiu por várias vezes. Começou então, o deslocamento dos militares até os portões onde, num espaço entre ambos, as bandeiras seriam arriadas. Primeiro duas militares saírem do destacamento e marcharam firmemente até o portão. Depois, um militar de cada vez, após o grito antes referido, saía em longos passos de marcha, o pé ia até a cabeça e era batido vigorosamente no chão e assim, até o portão, onde faziam gestos de provocação para os militares do Paquistão, que faziam o mesmo cerimonial do lado de lá. E o mesmo ritual se repetiu com pelo menos 05 militares. A cada gesto violento dos militares em direção à fronteira, o povão ia ao delírio e entoava cantos e palavras de ordem. O fervor do ódio existente entre os dois lado era latente e ia aumentando de intensidade. Finalmente os portões da fronteira foram abertos, um militar de cada lado se aproximou do outro e tivemos a impressão que se cumprimentaram. Mais uma série de rituais de provocação, as cordas que sustentavam as bandeiras foram desatadas, vários malabarismos desenrolarem as cordas que, afinal, foram cruzadas e as bandeiras iniciaram o arriamento, uma cruzando pela outra. Recolhida cada bandeira com todo o fervor e, depois de dobradas, foram conduzidas em cerimônia até os respetivos destacamentos. Mais um cerimonial provocativo para o fechamento do portão e terminou em êxtase dos presentes, uma das cerimônias mais bizarras e surreal que já vimos nas nossas andanças pelo mundo. Achamos também que nada contribui para o restabelecimento da paz entre dois vizinhos, que já foram um só país e hoje, depois de duas guerras e cada um com bomba atômica, ao invés de buscarem uma paz definitiva, continuam a alimentar o ódio e a vingança.

Hoje será dia de visita ao Templo de Ouro, a meca dos Siks. Tudo certamente estará aqui. Até. Beijos a todos. Narcísio e Dirlei.

Militares indianos checando a entrada de indianos estrangeiros, para a cerimônia de arriamento provocativo das bandeiras

Destacamento militar indiano de onde partiam os gritos provocativos e os militares que iriam até a fronteira

As duas primeiras militares indianas que marcharam até o portão da fronteira

Marcha vigorosa dos militares indianos até o portão da fronteira

Aqui os militares em ordem unida para, depois de um longo grito provocativo de outro militar, marcharem um a um até o portão

O portão da fronteira já aberto, com militares dos dois países frente a frente

Militares se preparando para a marcha até a fronteira

Início do arriamento cruzado das bandeiras da Índia e do Paquistão

As duas bandeiras se cruzando


Militares indianos conduzindo a bandeira da Índia, já dobrada, para o destacamento

Arquibancadas indianas completamente lotadas



Preparação para o fechamento dos portões da fronteira

Portões da fronteira Índia/Paquistão, novamente fechados

Estátua de um dos marajás que governaram Amritsar

Universidade de Amritsar, num belo palácio

2 comentários:

  1. Caros Blogueiros. Estamos acompanhando assiduamente os relatos da viagem. Acho que ficamos tão preocupadas com o "relato-thriller", que acabamos perdendo o comentário antes mesmo de ele ser publicado!
    Que bom que tudo correu bem!!
    Beijos da Larissa, Samantha, Aline e Maria Emília.

    ResponderExcluir
  2. Nós também estamos acompanhando e ficamos impressionados com o relato da "escaramuça" na fronteira. Estamos viajando para Rancho Queimado e lá nem sempre a internet funciona. Assim, no domingo estaremos de volta aqui para ler os relatos dos próximos dias.
    Beijos.
    Paulo e Heloisa

    ResponderExcluir