quinta-feira, 7 de março de 2013

A surpreendente Ahmedabad

Seguidores e Seguidoras,


Ontem jantamos no restaurante do maravilhoso Hotel Ista, de Ahmedabad, tendo como prato principal um cordeiro de panela que ele e o ambiente sofisticado chamavam por um ótimo vinho tinto. Infelizmente no Gujarat é a única região da Índia que não permite venda e consumo de álcool, salvo alguns hotéis, para turistas, com apresentação do passaporte. Invocamos este privilégio mas nem assim havia vinho para vender. Resultado. Jantamos à base de água e suco. Meio sem graça, mormente para nós que adoramos um bom vinho no jantar durante as viagens. Amanhã, porém, isto vai acabar.

Hoje, depois de um ótimo café da manhã, foi dia para explorar a surpreendente Ahmedabad. Principal cidade do Gujarat, foi capital do estado até 1970. Este centro industrial e comercial muito ativo também possui um bairro antigo, onde estivemos durante o dia, inclusive andando de Tuc Tuc, com sabor da cultura tradicional e da história de Gujarat. Segundo a lenda, a cidade deve sua fundação ao sultão Ahmed Shah (reinado de 1411-42), que, ao sair para caçar, encontrou uma coelheira à margem do Rio Sabarmati(muito poluído, por sinal). Para surpresa dele, os coelhos avançaram nos cães de caça e defenderam seu território. O sultão interpretou isso como sinal auspicioso e construiu a nova capital neste local, dando seu próprio nome: Armedabad (cidade de Ahmed).

O centro novo da cidade, em cuja praça central tem um grande lago, no meio de um parque, onde as pessoas fazem suas caminhadas e exercícios matutinos, é um pouquinho mais limpo e organizado que as demais cidades que visitamos.

É na cidade velha, porém, que vimos coisas muito interessantes desta cidade. É um labirinto, de prédios antigos que outrora foram belíssimos e hoje estão caindo aos pedaços, cheio de pequenas lojas de comércio e tudo mais, vacas, elefante, tuc tucs, carros velhos e muita, mas muita gente.

Primeiro, fomos visitar o Subarmarti Ashram, uma colônia espartana de casas cobertas de telhas, é local de peregrinação nacional porque foi residência de Ghandi. Daqui ele organizou a luta final pela liberdade da Índia. Seu chalet foi mantido como ele deixou e contém alguns itens pessoais, como óculos arredondados, chinelos de madeira, muitos livros e mais de 500 cartas. Em 1915 ele veio da África do Sul e se estabeleceu no local onde receberia os excluídos da Índia, na beira do rio Sabarmati. Depois, ele e muitos dos seus seguidores marcharam para a cidade Costeira de Dandi, no Gujarat, para protestar contra a imposição britânica de imposto do sal. Antes de sair do ashram, ele prometeu nunca mais voltar até  que a Índia se tornasse independente. A energia do local é impressionante. Tudo ali está como naquela época. Ali estão mantidos os locais onde foram tiradas as mais conhecidas fotos de Ghandi. O ambiente, arborizado e à beira do rio, transmite muita paz. Valeu muito a visita.

Dali fomos para o mais impressionante e completo museu têxtil que já vimos, da história de um povo. O Calico Museu. Importante centro indiano de produção e comércio de tecidos, desde o século 15, Ahmedabad é o local adequado para este excelente museu. Em sua coleção de  tecidos raros estão tendas reais, tapetes e trajes; pinturas religiosas em panos; bordados, brocados e tramas de seda; e xales da Caxemira. As peças, cuja maioria  data dos séculos 17 e 18, estão expostas  em uma bela haveli, casa antiga com todo seu madeirame, interno e externo ricamente entalhado. Uma maravilha que, infelizmente não pudemos fotografar, já que era proibido entrar com a câmera. Assim, nada poderemos compartilhar com vocês, além deste relato.  O museu foi criado em 1949 pela família Sarabhai, proprietária de tecelagens e grande filantropa de Gujarat. O local é imperdível para quem vier à Índia e quiser ter uma completa visão de como evoluiu a tecelagem no país, sob todos os aspectos, desde as roupas usadas desde os tempos antigos até aqui, tipos de tecidos, padronagens, técnicas de costuras, decoração e bordados, tendas, roupas de festas, de dormir, de proteção dos animais no frio e tudo mais que você imaginar. De negativo, apenas o atendimento ruim, desde a recepção até a saída, todos dando a impressão que o grupo guiado onde nos encontrávamos, não era bem vindo. Apesar disso, a visita é imperdível.

Dali nos dirigimos à pequena, mas única, Mesquita  Sidi Sayed.(No trânsito demos de cara com um enorme elefante carregando em suas costas quase um floresta inteira. Incrível). Essa mesquita talvez seja o monumento mais fotografado de Ahmedabad, mesmo porque ali estão quatro janelas talhadas em pedra, transformadas em filigrana. Feitas por um escravo de Ahmed Shah em 1572, retratam ramos entrelaçados de árvore, entalhadas com delicadeza extraordinária. Esperamos que as fotos possam mostrar um pouco desta maravilha de arte, que transforma a pedra quase que num vitral. Imperdível, por este particular. 

Dali, agora num Tuc tuc (as fotos explicarão como é) fomos para o agitado  e nervoso mercado muçulmano da cidade, para ver a Mesquita  Jami Masjid, uma das maiores e mais bonitas mesquitas da Índia, rivalizando com a grande mesquita de Delhi. Foi construída em 1423 sobre 260 pilares suportando 15 cúpulas, em vários níveis. Magnífica.

Andar de tuc tuc é uma aventura sem par. O trânsito atulhado deles, de carros, pessoas e vacas. Só que todos se entendem. Quem não conhece como funciona o trânsito na Índia, imagina que vai se acidentar na primeira esquina. A buzina frequente e a agilidade do condutor, desviando por um triz de tudo, fez com que chegássemos na grande mesquita e dela retornássemos  para o carro, sãos e salvos e com uma nova experiência vivida.

Por fim, ainda na Cidade Velha, visitamos a Mesquita das Rainhas, Rani Rupmati Masjid, dedicada  à esposa hindu do sultão. Construída em meados do século 15, a mesquita incorpora elementos  dos estilos  decorativos hindus e islâmico, com tela de pedra rendilhada para a privacidade das mulheres. Interessante.

Já no período da tarde, resolvemos visitar Gandhinagar, uma cidade planejada, construída em 1969, para ser a Capital política de Gujarat. É a Brasília, deles. Rua largas e arborizadas, áreas residenciais de alto padrão, administração publica, centros comerciais, tudo estabelecido numa área de 177 km² divididos em trinta setores, com uma população de cerca de um milhão e quatrocentas mil pessoas e planejada para abrigar 1 milhão e quinhentas.

Lá fizemos uma visita ao Templo Akshardham, um dos maiores e mais modernos desta região. O complexo do templo junta devoções, arte, arquitetura, educação, exibições e pesquisas em um único local que está espalhado em uma área de 23 acres. O monumento, consagrando a estátua coberta de ouro do Lorde Swaminarayan, com 2,1 m de altura. Foram usadas seis mil toneladas de arenito rosa na construção do monumento que é visto como uma obra de arte arquitetônica. O local é muito amplo e belíssimo, com jardins floridos e cheio de esculturas e plantas ornamentais esculpidas na forma de animais. Pena que era proibido fotografar, tendo em vista uma tentativa de atentado que sofreu, que não permite que se entre com nada naquele lindo complexo.

No retorno para o hotel, o guia disse que primeiro iria nos levar para conhecer um poço. Ficamos na dúvida se valeria a pena. Imaginávamos um poço antigo e nada mais. Ledo engano. Uma obra arquitetônico indescritível. Um palácio, ou um mesquita cheia de colunas. Mas é apenas um poço de coleta de água.

Os poços com escadas de Gujarat constituem uma resposta  engenhosa à escassez de água nesta região árida. Muitos desses poços são dedicados a divindades, em agradecimento à mão de Deus ao fornecer suprimento de água. O Adalaj Vav, talvez o melhor poço com escadas de Gujarat, foi construído em 1499 por Rudabai, esposa de um chefe local, a fim de armazenar água e oferecer um ambiente fresco e agradável às pessoas. Uma série de belas plataformas e galerias foi feita nas laterais do poço, por toda a descida até o seu fundo. As aberturas do poço têm uma profusão de entalhes, com temas florais e geométricos, entremeados de estatuetas. Todos os pavilhões apresentam nichos entalhados com vasos, cavalos, flores e folhagens. Surpreendente e magnífica, esta obra de arte. Esperamos que as fotos consigam retratar um pouco do que vimos. Estamos atônitos até agora.

Enfim, foi um dia cheio de emoções e surpresas. Ahmedabad, uma cidade que vale a pena ser visitada, embora a maioria dos turistas não apareçam por aqui. Amanhã viajaremos para Udaipur. Muitas belezas nos esperam lá e estarão todas aqui. Até. Beijos a todos. Narcísio e Dirlei.

Visão de Ahmedabad, desde sua praça central com lago

Foto clássica de Ghandi, no Ashram que visitamos

Instalações do Gandhi Ashram

O rio Sabarmati e o blogueiros, desde do Ashram de Gandhi

Mais uma visão dos Ashram 

Interior da casa que foi de Gandhi, onde tirou uma clássica foto

Os blogueiros, no Ashram

Casas de hospedagem, no ashram de Gandhi

Mesquita Sidi Sayed

Janela, esculpida em rocha(filigranas) da mesquita Sidi Sayed

Idem

Visão do interior da Mesquita Sidi Sayed

Visão da mesma mesquita

As Jenelas esculpidas, da Mesquita Sid Sayed, vistas de fora

Idem

Os blogueiros, no tuc tuc

Os blogueiros e o guia Jaideep, espremidos, no tuc tuc

O tuc tuc no caótico trânsito de Ahmedabad

Idem

Idem

Portal da cidade, no bairro muçulmano

O comércio no bairro muçulmano de Ahmedabad

A grande mesquita Jama Masjid

Área de purificação(lavagem do rosto, mãos e pés), na Mesquita Jama Masjid

Visão do Pátio da Jama masjid

Interior, com 260 pilares, da Mesquita Jama Masjid

Decoração da mesquita

Cúpula da mesquita Jama M.

Colunas da mesquita Jama masjif

Idem, com um fiel rezando

Idem

Corredor, com passagens do corão, na Mesquita Jama Masjid

Idem

Os blogueiros, no corredor da mesquita

Mesquita das Rainhas

Túmulos dos sacerdotes, na mesquita das Rainhas

Crianças saindo da escola num tuc tuc superlotado

Estrada do poço Adalaj Vav

Visão dos início da descida para o poço

O blogueiro, num dos balcões do Poço Adalaj Vav

Masi uma visão magnífica do Poço

O blogueiro e o guia Jaideep, com o poço Adalaj Vav, ao fundo

No mesmo local, os blogueiros

Visão das paredes do poço

Saída de luz, acima do poço Adalaj

Flor de Lótus, esculpida nas paredes do poço

Coluna decorada, na saída do Poço

Mais uma visão do magnífico Poço Adalaj Vav




3 comentários:

  1. Olá tio e Dirlei,
    Olha, na minha humilde opinião, essa viagem é realmente para poucos! Sou obrigada a dizer: vocês são deveras corajosos, animados e destemidos!
    A foto no tuc tuc chegou a me assustar! O que é aquela muvuca?? Tenham juízo!!! rsrsrs
    Dirlei, arriscar-se a comer na rua comida típica na India??!!! Parabéns! Sou sua fã!
    E a subida daquela escadaria imensa na postagem de ontem, nossa, ótimo preparo físico é pouco!
    Mas pelas fotos, vejo que está valendo a pena.
    Que a disposição continue, para continuarem se divertindo!
    Um beijo, Jossi

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  2. E daí, turistas? Pelo que vi estão aproveitando muito bem... gostei mesmo foi do tuc-tuc... vcs podiam tazer essa novidade para Floripa, pq já estamos dando decisivos passos rumo ao trânsito caótico... Cuidem-se e divirtam-se... abraços, Pedro

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  3. Queridos Narcísio e Dirlei, é um privilégio poder acompanhá-los nesta viagem fantástica. Utilizando um globo que tenho lá em casa e o Google Maps, eu e o meu filho Cauê, hoje com 8 anos, estamos seguindo vocês em mais esta aventura. Boa viagem. Aproveitem.

    P.S.: Narcísio, agradeço, mais uma vez, a lembrança do meu aniversário.

    Forte abraço

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